Os dois viajantes.
Dois viajantes perderam-se no caminho, e depois de muito terem andado, chegaram a uma terra desconhecida. Os guardas da fronteira os prenderam e levaram à presença do rei. Guardas, rei, todos na terra eram macacos. O que vos parece de mim e do meu povo? perguntou-lhes o rei depois dos primeiros cortejos. — Senhor, disse um dos viajantes, facilmente se vê que sois o magnânimo rei de um povo generoso e ilustrado. O rei sorriu-se benigno. Senhor, disse o outro, basta ter olhos para ver que vosso povo se compõe de monos, e tudo, até esse feio rabo que ali se enrosca detrás de vosso trono, diz que também sois mono. Tanto bastou para que os guardas do rei caíssem sobre o indiscreto, e o esquartejassem; o outro foi muito agasalhado, e retirou-se cheio de presentes.
MORALIDADE: A verdade irrita os maus, a mentira é por eles bem acolhida.
As duas cadelas.
Sentindo-se na hora de parir, e não tendo onde acolher-se, pediu uma cadela à sua camarada que lhe emprestasse a sua cama. A outra, compadecida, atendeu-lhe, prometendo ela retirar-se logo que os filhinhos se pudessem arrastar. Chegou o dia da restituição, e não mostrando a hóspede muita vontade de cumprir o ajuste, pediu-lhe a compassiva o seu palheiro. A parida, porém, arreganhando os dentes: Retirar-me-ei, disse, se fores capaz de deitar-me fora a mim e aos meus. Tinha então consigo meia dúzia de cachorrinhos que já ladravam e sabiam morder.
MORALIDADE: Há assim muitos que, como a cadela mal agradecida, humildes imploram a caridade, e depois se levantam contra quem lhes valeu.
O homem e a víbora.
Em manhã de rigoroso inverno ia um pobre camponês para seu trabalho; viu uma víbora, tolhida de frio, que estava morrendo. O pobre na lição do sofrimento aprende a ser compassivo; condoído, o camponês não refletiu; tomou a víbora, agasalhou-a no seio. A malvada mal sentiu a benígna influência ao calor, cobrou forças, e com elas a natural perversidade, e com venenosa mordidela retribuiu ao imprudente o seu beneficio.
MORALIDADE: Manda a humanidade que socorramos ainda mesmo aos maus; cumpre porém ver que não seja dando-lhes meios de continuar as suas maldades.
Ia um burro ufano de si, pois o arrieiro lhe havia posto campainhas, cascavéis e penachos, e o coitado achava-se formosíssimo. Encontrou um leão: “Tira-te daqui, disse-lhe arrogante, não me embaraces o caminho”. 0 leão parou vendo tanto atrevimento, irresoluto se o devia castigar: por fim sorriu-se, e disse: “Não; carne tão vil desdouraria as minhas garras”. Riu-se outra vez e foi-se.
MORALIDADE: Há insolências que partem de tão baixo, e a tão alto se dirigem, que só o desprezo merecem.
O pavão e Juno.
Um formoso pavão excitava com a beleza das suas penas a curiosa atenção de alguns homens que o estavam admirando, e que lhe não poupavam gabos. Súbito ouviram estes o cantar de um rouxinol, e logo tudo esquecendo, procuram chegar-se para o lugar de onde partiam tão suaves melodias. Abandonado, o pavão encheu-se de raiva, e queixoso foi ter com Juno. Porque há de um passarinho, feio e sem graça, cantar melhor do que eu; porque me não deste a voz do rouxinol? perguntou. Não sejas ingrato, respondeu lhe Juno; cada animal tem suas prendas, nenhum tem tudo; à águia coube a força, ao rouxinol a voz, a ti essa plumagem recamada de estrelas e de esmeraldas; não és dos mais mal aquinhoados. — Sim; mas quisera cantar como o rouxinol, tornou o pavão.
MORALIDADE: Poucos se contentam com o que têm, todos invejam o alheio, e assim se fazem desgraçados.
Os pássaros e a andorinha.
Em um campo muito tempo abandonado, e que por isso tinha se coberto de plantas agrestes, de cujas sementes se alimentavam muitas famílias de pássaros, apareceram um dia alguns homens de enxada na mão, revolvendo a terra, e semeando tinhaça. Uma andorinha que muito tinha viajado, e portanto ganhado experiência, convocou em assembléia todo o povo de penas e disse: Não é de bom agouro o que esses homens estão fazendo; da semente que deitam na terra há de nascer linho; com ele farão cordéis, laços, redes. Enquanto, pois, é tempo, caiamos na sementeira, não deixemos que brote um só grão. Os passarinhos puseram-se a rir e a chasquear. A andorinha retirou-se triste, e a sementeira ficou salva. Mas daí a pouco, redes e laços multiplicaram-se, e a imprudente passarinhada deu boas ceias aos lavradores.
MORALIDADE: Não escarneças de quem te dá bons conselhos; quando não, algum dia no infortúnio dirás ah! se tivesse pensado!
A gralha e os pavões.
Estando na muda os pavões, uma gralha. seduzida pelo brilho das penas que deles caíam, apanhou-as e com elas se enfeitou. Desdenhando das irmãs, foi então meter-se em um bando de pavões. Estes, porém, logo a reconheceram, e às bicadas lhe arrancaram as penas que lhe não pertenciam; e com elas, pele e carne. Ensangüentada, voltou a coitada para suas irmãs, que só depois de muito a terem, chasqueado, perdoaram ao seu arrependimento.
MORALIDADE: Nunca por ostentação ou interesse dês o alheio por teu; pois a fraude é logo descoberta, e o castigo imediato.
Beijos
ResponderExcluirsaudações a ti e teu Sr.
Sempre seremos apresendizes da vida.
Nunca saberemos tudo.
Que lição esse texto nos trás, né, menina?!
bom final de semana
yllenah SM